Análise e Crítica Social
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Tema 5 -A Saúde Mental
Este tema tem sido dos tópicos mais debatidos nos últimos tempos, existindo ainda um enorme estigma à volta do que realmente são as doenças mentais.
Duas das variantes que mais se tem debatido ultimamente é, por um lado, a da saúde mental dos jovens e, por outro lado, da população em geral devido a pandemia e as consequências da mesma nomeadamente sucessivos "lockdowns", perda de empregos, liberdades e direitos civis retirados/suspensos, entre outros fatores que podemos propor aqui.
Desta vez não vou abrir tanto o jogo e deixar que vocês o abram de modo a conseguirmos ter uma amplitude maior de perceções acerca desta temática. Contudo, deixo aqui alguns exemplos de doenças mentais mais comuns na atualidade: Burnout; Ansiedade; Pânico; Depressão.
Alguns números para podermos iniciar o debate:
"Mais de um quinto dos portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica (22,9%).
Portugal é o segundo país com a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas da Europa, sendo apenas ultrapassado pela Irlanda do Norte (23,1%).
Entre as perturbações psiquiátricas, as perturbações de ansiedade são as que apresentam uma prevalência mais elevada (16,5%), seguidas pelas perturbações do humor, com uma prevalência de 7,9%.
As perturbações de controlo dos impulsos e as perturbações pelo abuso de substâncias registam taxas de prevalências inferiores, respetivamente, com 3,5% e 1,6% de prevalência.
Cerca de 4% da população adulta apresenta uma perturbação mental grave, 11,6% uma perturbação de gravidade moderada e 7,3% uma perturbação de gravidade ligeira.
As perturbações mentais e do comportamento representam 11,8% da carga global das doenças em Portugal, mais do que as doenças oncológicas (10,4%) e apenas ultrapassadas pelas doenças cérebro-cardiovasculares (13,7%)."Fonte: Sociedade Portuguesa Psiquiatria Saúde Mental
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@moumiguel7070 said in Análise e Crítica Social:
Tema 5 -A Saúde Mental
É uma questão que tenho ouvido falar muito nos últimos tempos, muito por culpa destes tempos de pandemia que atravessamos.
Acho que há uma ideia errada de que quem tem qualquer tipo de problema mental e pede ajuda, é maluquinho. É um tema sério que não deve ser encarado dessa forma.
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Existe um forte estigma a volta disto. É preciso consciencializar de que o tema não é tão linear, de que qualquer pessoa pode sofrer da mesma e que pedir ajuda não é errado.
A questão pode ir muito mais além, e a pandemia foi um dos gatilhos.
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Bora malta, este é um tema importantíssimo e que não devemos ignorar!
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Tema importantíssimo, e fundamental ser cada vez mais explorado, uma vez que ainda o vejo a ser constantemente desvalorizado por várias pessoas. "Isso não é nada", "não sejas medricas", "isso passa-te já" são expressões típicas usadas para falar acerca de questões do foro mental... No entanto, se partes um braço ou uma perna é unânime que tens de fazer o tratamento. Quando para ambas é necessário fazer as terapias necessárias para ultrapassar a situação, ou seja não há qualquer tipo de diferença.
Por vezes o medo de pedir ajuda para estas questões é muito grande, devido a todos esses preconceitos.
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Exatamente, a questão da saúde mental tem sempre essas questões que referiste associadas, ou seja, um estigma que nos leva a desvalorizar o tema e, inclusive, a prejudicar quem sofre.
A saúde mental é tão abrangente e que nos leva a questões físicas... Basta ver como uma baixa auto-estima pode derivar em problemas gravíssimos.
Por outro lado, o suicídio tem sido uma prática recorrente e, salvo erro, em exponencial crescimentos nos jovens. Este ultimo é um tema muito complexo que Durkheim, um dos fundadores da sociologia, outrora estudara e chegara à conclusão de que existe vários tipos de suicídios (e por causas sociais) e eu destaco um, embora existam mais dois tipos (o egoísta e o altruísta): o suicídio anômico - isto é, quando não conseguimos acompanhar a normalidade social e cria-se, portanto, um processo de anomia na qual não se mantêm as regras sociais normais e isto tem acontecido com sucessivas crises, com um mundo de relações vazias e líquidas, um mundo cada vez mais competitivo e individualizado (o este ultimo pode levar-nos ao suicídio egoísta, ou seja, não pertença ao coletivo).
Em resumo, a sociedade e a forma como ela se organiza pode também levar-nos a criar problemas mentais.
Ansiedade. Burnout. Frustração. Entre muitas outras, existindo algumas doenças mentais que acontecem por questões como velhice ou uma vida de excessos (alcoolismo; drogas;...)
Dois exemplos que dou sempre: A ideia de que a felicidade se compra (sociedade capitalista); a ideia de que devemos trabalhar 25 horas por dia (a individualização da sociedade). -
Não havendo atividade sobre este tema, irei dar o espaço de um ou dois dias (aproveitando que estou de férias) para sugerirem temas, caso contrário, já tenho um tema preparado, sendo este mais abrangente de modo a que o debate seja mais espontâneo pela vossa parte e, eventualmente, tornar o tópico mais dinâmico e "menos chato/denso".
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Tema 6 - Redes Sociais
As redes sociais são um ponto de viragem entre gerações e tem sido uma caraterística estrutural desta ultima geração.
Se nunca antes tinha existido uma geração tão preparada como a atual, contudo, ironicamente, nunca antes uma geração viveu pior que a sua geração anterior. Por outras palavras, o padrão que se tem verificado (e agora não se verifica) é de que os filhos vivem melhor que os pais.Existem redes sociais para namorar, para encontros casuais, para procurar trabalho, para roupa, para animais para socializar, etc... As redes sociais fazem, de facto, parte do nosso dia a dia, tendo as mais diversas utilidades e ferramentas em contrapartida das suas desvantagens. Pode dar problemas ou soluções. Pode ser bom ou mau. Podes gostar ou não. Podes ser obrigado a ter ou não.
De modo a termos um debate dinâmico, fluído e menos denso, não vou aprofundar mais sobre o tema e, sendo este um tema tão abrangente e que podem pegar por tanto lado, estão a vontade para iniciarem vocês o debate da forma que se sentirem mais confortáveis.
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@moumiguel7070 Tenho uma opinião bastante forte acerca deste tema: a maioria das redes sociais atuais são um cancro para a sociedade.
A meu ver são vários os aspetos nos quais a sociedade ganharia com um regresso ao passado, e este é um dos principais.
Defendo esta posição por vários motivos:
- as redes sociais atuais são um esgoto a céu aberto, e isso é visível quando abres uma caixa de comentários e vês ódio gratuito, racismo, perfis falsos, entre muitas outras coisas;
- as redes sociais atuais, pela sua forte capacidade de difusão de matérias, são uma mina de ouro para difundir fake news e criar ondas de desinformação que levem as pessoas a tomar decisões erradas para a sua vida, afetando a mesma;
- as redes sociais atuais criam uma pressão muito grande principalmente nos jovens, mas não só, quase numa competição para ver quem tem mais seguidores ou likes, bem como pressão ao nível da exposição da sua vida (qualquer um é livre de não se querer expor, mas com a grande maioria das pessoas a fazê-lo é difícil uma pessoa que não o faça não se sentir de parte relativamente a outros) e do vício que criam nas pessoas;
- outro problema forte das redes sociais atuais é a pressão em termos de imagem, ou seja, criam-se estereótipos de beleza ideal, do corpo ideal que podem levar uma pessoa que se sinta fora deles a sentir-se mal consigo própria e até a doenças do foro psicológico.
Para além de todas estas desvantagens, soma-se a quase impossibilidade de viver sem ter redes sociais hoje em dia. Apesar de ser opcional as pessoas terem contas nas redes sociais, é através desses meios que a esmagadora maioria das pessoas comunicam e interagem umas com as outras. Hoje em dia já se conhecem pouquíssimas pessoas que não tenham redes sociais - eu particularmente não conheço ninguém nessa situação. Isso faz com que te tornes quase um info-excluído caso não tenhas estas redes.
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Por um lado, penso que os otimistas da esfera pública (veja-se Jurgen Habermas) têm a sua cota parte de razão quando assumem que as redes sociais poderiam ser um espaço de debate, de troca de ideias, de otimismo para a democracia.
Por outro lado, concordo maioritariamente com o que tem vindo a ser uma visão mais pessimista das redes sociais (veja-se, por exemplo, Zygmunt Bauman) quando assumem que as redes sociais tornaram as sociedades de hoje em dia mais vazia de valores, de ausência de relações sociais sólidas.Para mim, sempre foi melhor um bom fórum com a sua atividade e dinamização do que um facebook vazio de conteúdo.
Deixo-vos um pequeno vídeo (nem 4 minutos) sobre este tema, acho que vão gostar de ver:
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Tocas num aspeto interessante, que acho que podia ser mais discutido: o tipo de redes sociais que existem.
Eu também me sinto muito melhor em bons fóruns ou em redes mais focadas no chat com familiares e amigos como o WhatsApp, do que nas redes que têm a multiplicidade de funções que todos conhecemos (Facebook, Twitter, Instagram, etc.).
Deixo aqui uma notícia que vi ontem de dois ex-funcionários do WhatsApp que criaram uma nova rede social, chamada HalloApp. Para mim deveria ser este o conceito ideal de rede social.
Para quem quiser ver: Sem publicidade, influencers ou likes: ex-funcionários do WhatsApp criaram nova rede social
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De facto, esse tipo de experiências também aconteceu no Instagram e eventualmente em outras redes sociais. A verdade é que são experiências que, pelo menos, legitimam um bocado o seu funcionamento e ideia original - a de criar laços sociais.
As redes sociais têm sido uma "fachada", um espaço público mal aproveitado onde as pessoas procuram preencher os seus vazios e o seu ego através de uma felicidade não genuína, de conteúdo falso e/ou tendencioso.
É necessário mudar estruturalmente o funcionamento das redes sociais, mudar estruturalmente a forma como podem ser uma ferramenta positiva para a democracia, para a criação/reforço/manutenção de laços sociais, enfim, mudar estruturalmente os objetivos das redes sociais de modo a obtermos um produto final que consiga satisfazer uma sociedade que cada vez mais tem menos bases sólidas, isto é, cada vez mais mutável. Neste sentido, posso me considerar bastante conservador embora seja um defensor fervoroso do progresso mas, claro, um progresso que seja sustentável, que seja um progresso social e não apenas tecnológico, um progresso económico mas que não seja em base a um sistema capitalista ultrapassado mas sim com um aproveitamento genuíno do excedente que produz.
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E vocês? o que acham? Gostam das redes sociais? Quais as redes sociais que mais utilizam? Acordam de manhã e vão logo as redes sociais? Quanto tempo passam por dia?
Vamos maltinha, falem aí
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-- Hoje em dia estamos todos ligados ás redes sociais quer seja por lazer ou até para fins laborais.
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Quanto ao lazer, na minha opinião, as redes sociais tiveram uma boa fase, que foi o início onde "tudo" era legítimo e mais puro.
Hoje, o que vemos é puro lixo, pessoas atrás de um monitor que fazem trinta por uma linha para se impor ou se destacar perante alguém ... estão criados os tão falados padrões de beleza em que, os que não seguem, automaticamente vão sofrer psicologicamente.
Concordo com o @WarriorFCP : "as redes sociais atuais são um esgoto a céu aberto, e isso é visível quando abres uma caixa de comentários e vês ódio gratuito, racismo, perfis falsos, entre muitas outras coisas;"
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Por outro lado, para fins laborais estamos na melhor versão das redes sociais. Hoje em dia é cada vez mais comum comprar online e todas as redes sociais são um forte ponto de publicidade e para comprar e vender produtos. Qualquer pessoa hoje cria uma página e partilha os seus produtos ou criações para vender ... Aqui temos que valorizar o impacto na economia.Eu uso facebook, instagram, twitter de forma discreta, sem grandes alaridos. Passo mais tempo a ver vídeos de rir do que a cuscar vidas alheias
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Maltinha, então, não há mais ideias?
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@moumiguel7070 Olá, essa será minha primeira interação aqui no Fórum e o mais engraçado é que não será relacionada ao jogo OSM rsrs
Acredito que a maioria interagindo aqui são portugueses certo? Sou do Brasil.
Será que as mídias sociais estão sendo utilizadas da mesma forma em países diversos?
Hoje em dia não faço uso do Instagram e Facebook por considerar um ambiente poluído e com pouco conteúdo de valor. Atualmente uso apenas o VK (Comunidade Russa) que possui um fórum bastante semelhante ao do extinto Orkut, para acompanhar noticias e discutir sobre futebol, mais precisamente sobre meu clube de coração Santos Futebol Clube.
Acredito que o mal uso das redes sociais no Brasil está refletido diretamente a precariedade da nossa educação básica. As discussões que são geradas principalmente no Facebook possuem baixíssimos níveis de aprofundamento, onde comumente as pessoas são facilmente manipuladas por fake news (inclusive, sendo responsável pela eleição do atual presidente do Brasil).
É um fato! Não sabemos utilizar as redes sociais. Muitos fazem uso da mesma como forma de entretenimento, mas será essa realmente a principal função de uma rede social? Será que postar vídeos de danças repetidas (tiktoker's) e publicar diversas selfies aparentemente iguais fazendo caras e bicos em uma constância diária é a forma como devemos iniciar interações?
Fico a imaginar que daqui algumas décadas as futuras gerações irão achar bastante estranho a forma como utilizamos as redes sociais atualmente. Bem como quando olhamos para um retrato antigo de quando as pessoas não sorriam para as fotos rsrs
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Olá Henrique, obrigado pela tua resposta e aproveito já para te dar umas boas vindas ao fórum
Tocas num ponto interessante pelo qual tive, tenho e que tem sido um dos objetos de grande parte da minha investigação cientifica embora atualmente esteja mais focado nesta temática mas no âmbito da covid-19.
No Brasil, ou seja, no teu contexto, as redes sociais nomeadamente o facebook e o whatsapp foram essenciais para a eleição do Bolsonaro (sem querer entrar em outros detalhes tal como a componente religiosa).
Na América (e em todos os continentes, praticamente), a cambridge analitica (e não só) também teve um impacto direto em eleições, veja-se a eleição de Trump (das mais destacadas, mas veja-se também, salvo erro, as eleições em Trinidad e Tobago).
Em suma, e respondendo diretamente a tua questão, as redes sociais ultrapassaram, de facto, toda a sua base original, isto é, as redes sociais, hoje em dia, são uma ferramenta da economia (talvez seja uma das estratégias que o capital encontrou para lucrar com o seu excedente), uma ferramenta política (com consequências diretas e indiretas na democracia e participação política) e psicossocial (tornando-se uma arma contra o ego, a autoestima, e afins).
Se quiserem, podemos entrar por aí. A forma como as redes sociais são uma ponte para a organização de grupos extremistas; de movimentos sociais nacionais e internacionais (este ponto pode ser positivo e/ou negativo); de ódio; de hipocrisia; fake news; etc...
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Estamos quase a chegar ao fim deste tema, alguém tem alguma sugestão para o próximo tema?
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Tema 7 - O mercado de trabalho
O mercado de trabalho foi, é e será um tema estruturante das nossas sociedades.
A maioria das sociedades (para não afirmar todas) são baseadas num sistema capitalista que afeta direta e indiretamente os mercados de trabalho.
Se por lado, todos fazemos parte deste todo e, inevitavelmente, é uma realidade diária e, eventualmente, necessária para cada um de nós individualmente, por outro lado, temos assistido, também, a mudanças estruturantes dos mercados de trabalho, nomeadamente através da modernização, da tecnologia, da pandemia, do reaproveitamento do excedente que o capitalismo produz ou através de sucessivas crises económicas, sanitárias, sociais e políticas.Como consequência da pandemia provocada pela Covid-19, algumas tendências do mercado do trabalho como o teletrabalho, que se iam instalando de forma paulatina, acabaram por se instalar de forma abrupta e inesperada.
A tecnologia e a sua consequente modernização provocou, direta e indiretamente, a extinção de postos de trabalho, contudo, também revolucionou, por sua vez, de forma estrutural, os mercados de trabalho, tornando-o mais focado em certos aspetos que, outrora, não eram contemplados.
De um lado, temos um mercado de trabalho mais exigente, que procura certa mão de obra especializada e/ou certas caraterísticas que nem todos possuímos (veja-se a inteligência emocional ou possuir conhecimentos avançados em tecnologia).
Por outro lado, temos um mercado de trabalho que oferece oportunidades, que oferece bem-estar e melhor qualidade de vida.Existem diversas perspetivas sobre isto como por exemplo a redução paulatina do horário de trabalho que, segundo especialistas, irá procurar por uma extinção do trabalho tal como o conhecemos, implementando um rendimento básico universal.
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Deixo-vos alguns documentos interessantes sobre alguns assuntos que podemos abordar como menos dias de trabalho, o rendimento básico universal, alterações no mercado de trabalho, jovens desempregados, etc...:
https://www.dn.pt/opiniao/pros-e-contras-do-rendimento-basico-universal-13297188.html
https://pt.euronews.com/next/2015/03/10/as-dificuldades-dos-jovens-no-mercado-de-emprego-de-portugal